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OPINIÃO: Viva como se estivesse de partida

Um tema com o qual não tenho boa relação, se é que alguém tem, é com a morte. Mas, não posso negar que sempre tenho a curiosidade de saber,  se  quem  morreu,  antes  do  evento,  mesmo  que  inconscientemente, deu indícios de que sabia o que viria a lhe acontecer. Conheço alguns casos de pessoas mais próximas a quem faleceu que, ao lembrarem um evento ou outro, chegaram à conclusão de que quem partiu tinha algum pressentimento.

Semana passada, voltei a pensar sobre o assunto ao ler a notícia da morte do jornalista gaúcho Rafael  Henzel,  um  dos  seis   sobreviventes   do acidente ocorrido em  28  de  novembro  de 2016, com o voo da  LaMia  2933,  que  transportava, além da tripulação e jornalistas, jogadores, comissão técnica e dirigentes da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, onde o time disputaria a final da Copa Sul-Americana e que não chegou ao seu destino, pois se chocou com uma montanha, resultando em 71 vítimas fatais.

O jornalista, em várias entrevistas, relatou a experiência vivenciada naquela horrível e gelada noite, logo após o acidente, nas montanhas da Colômbia e dos pensamentos que vinham a sua mente: se aquele seria, de fato, o seu fim e das coisas que gostaria de ter feito. Quem viu o que restou do avião teve a certeza de que somente um milagre poderia justificar a existência de sobreviventes.

Rafael Henzel foi um dos sobreviventes, e com a segunda chance que a vida lhe concedeu, escreveu o livro Viva como se estivesse de partida. No livro, além de relembrar as horas que antecederam o acidente, da alegria do time com a esperança de um título, e de como o destino pode mudar a vida das pessoas de uma hora para outra, compartilha a dor pela perda dos amigos, conta sobre as dificuldades do resgate, sobre o carinho dos médicos no atendimento pós-acidente e na incrível solidariedade que recebeu de vários lugares do mundo. Contudo, a principal mensagem dividida com o leitor no livro é a gratidão de ter tido uma segunda chance e de que não é preciso vencer a morte  para  começar  de  novo.

A  segunda  chance  de  Henzel  durou  pouco menos de dois anos e quatro meses, pois faleceu de infarto quando jogava futebol com os amigos, no último dia 26 de março, deixando a sensação de que o destino, algumas vezes, brinca com as pessoas. Se alguém sobrevive a uma tragédia como aquela da Colômbia, deveria ter uma vida longa para contar a história para os netos. Mas, como o destino segue o seu próprio caminho, mesmo assim, em tão pouco tempo, Henzel deixou a certeza da transitoriedade da vida, de que não é preciso sobreviver a uma tragédia para ter um cotidiano mais leve e amoroso, de que devemos dar valor ao que nos é realmente mais caro, sem nos preocupar tanto com coisas pequenas e de que devemos viver o aqui e o agora, como se estivéssemos nos despedindo, pois, talvez, não tenhamos uma segunda chance.

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